É tarde e a noite começa a esfriar. Minha febre parece aumentar a cada cuspir do vento na minha cara. Ao meu lado passam os fantasmas que me assombram. Ponho a mão no bolso e finjo que eles não existem.
Ao fundo, escuto o apito do guarda que anuncia minha chegada. Não sou bem quisto pela vizinhança. O desejo deles é verem essa febrem consumir minha alma. Sinto seus ódios nos olhares e nos cínicos "bom-dia". Sou sozinho neste mundo, sem nenhum avalista.
Essa febre. Esse olhar desconfiado do guarda. Esses fantasmas que me assombram e roubam meus sonhos. Mas cruel e assombroso é a dor da solidão. De ser abandonado. De ser escarrado do teu único abrigo sincero. Mas isso, não vale uma lágrima. Não vale.
Chego em casa e meu "doce lar" é amargo e frio. Abro a geladeira e tomo o resto do leite que parece fadado a apodrecer comigo. Olho na estante e vejo retratos de um homem com a falta de vergonha em chegar sempre em segundo lugar. Vejo sorrisos que não enxergo mais no espelho.
Sento na frente da velha TV e vejo num programa, um político alardear a salvação, a vida eterna. Eterno diabo engravatado. Quando, sem esperar, um lágrima salta pelo abismo.
Um gato preto fita-me pela janela. O desespero vermelho corta minhas veias. Minha respiração torna-se descompassada e acelera. Minha pupila dilata-se.
Que raiva súbita dos fantasmas, da febre e dessa vida porca e fadada ao fracasso.
Minhas mão correm pelo fundo do sofá e encontram o fruto do meu colapso. O cano é gelado e firme. Lágrimas já não pedem mais licença e começam a cair, de medo.
Mas não vou fracassar. Não no meu último momento. Não sou covarde. Não sou um perd... click.
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