A crosta vai se formando ao longo de todo o corpo. Em breve, chegará ao coração, que logo ficará pálido, cinza e sem vida. O corpo vai se curvando diante do inevitável, diante do inimaginável. O sorriso empenará e o corpo perderá seu movimento.
Assim, nasce mais um executivo, assim dá-se vida a mais um número nas contas dos Recursos Humanos corporativos.
O ser-humano que é robotizado, automatizado e previsível. Ser máquina, ser sem-vida. Sr. Executivo, tire seus sentimentos antes de sair casa. Ponha-os todos na gaveta de cuecas e meias sociais pretas. Preto, junto com sua mortalha, que o acompanhará até o fim do seus dias, até sua demissão.
Transe, ser executivo. Transe, para satisfazer seu desejo de ser um humano novamente. Esconda os sentimentos de criança de seu chefe, pois são fraquezas. Sentir é fraco. Você não é fraco Sr. Executivo. Você apenas ainda não deu certo na vida. Naquela vida que todos esperam de você.
Não ligue para suas intuições. Não ligue para seu coração palpitar por uma menina, não ligue para uma lágrima que, em breve, escorrerá no quarto escuro da sua solidão. Não ligue para seus cabelos que caem.
Nada de chorar Sr. Executivo. O banco não chorará por você e seu cheque especial está para vencer. Você precisa ser produtivo, pagar suas contas em dia e quitar suas dívidas para dormir em paz com o travesseiro. Você precisa consumir mais e mais. O mundo espera isso de você. As mega-corporações precisam sobreviver para que você possa sobreviver, Sr. Executivo.
Tenha um carro. Tenha um Ipod. Tenha uma calça Diesel. Tenha um loft. Tenha seu passaporte carimbado. Tenha um sapato novo. Tenha um relógio. Tenha uma namorada (que você possa mostrar e não amar). Tenha amigos influentes. Tenha uma graduação, pós-graduação, mestrado, doutorado. Tenha um pobre para chamar de seu. Tenha um bom emprego. Tenha ações na bolsa. Tenha tudo, sr. executivo.
Tenha tudo, pois só assim você poderá ser alguém. Talvez um "ter-humano".
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