Neste dia, em que comemoro meus 70 anos de vida, o maior presente que ganhei foi a vida.
O tempo passou um bocado. Mais de pressa do que imaginei passar. Lembro ainda como se fosse ontem meu pai entrando no quarto onde dormiam os três irmãos para nos acordar.
Lembro-me de tudo um pouco nessa vida.
Do primeiro beijo, da primeira namorada, da separação de meus pais, das risadas de meus amigos, do meu primeiro emprego, de encontrar e perder o grande amor da minha vida, das músicas do Chico, das minhas músicas feitas com acordes e lágrimas dissonantes, do meu casamento, dos meus três filhos e de cada alegria que tive com eles, da minha aposentadoria (e quando descobri que teria ainda que trabalhar por anos a fio ), dos sustos que dei aos meus filhos já em alta idade e de ver a felicidade sorrir ao passar cantarolando pela rua.
Hoje, vejo filhos formados com suas esposas e meus netos. Alguns amigos vieram me visitar, outros em pensamento sei que estiveram comigo.
Sinto saudade daqueles que acompanharam muitos dos meus passos.
Lembro-me de minha mãe e sinto falta daquele carinho que ela sempre me ofereceu e a minha adolescência a fazia desprezar.
Tinha tanto medo do futuro, que já foi o presente e hoje é passado.
Não fui astronauta, ator e nem bombeiro. Mas olhando o passado descobri que fui muito mais do que queria ser. Servi de espelho para alguns e isso já me satisfaz.
As preocupações também mudaram. Antes preocupava-me com o pelo que não queria nascer. Hoje são os pelos que nascem até demais. Preocupei por demais com o que não era importante. Todas as aquelas coisas que depois que as tive, simplesmente as deixei para trás.
O que era importante e, posso dizer com toda certeza hoje, são nada mais que as pessoas, que por muito ignorei quando estava mais focado no ter.
Como eu queria que meus filhos aprendessem tudo isso sem ter que passar na pele por tudo que passei. Deus, eu choraria todas as lágrimas novamente para não ver estas minhas crias derramarem as suas. Mas confesso que isso não as faria crescer e aprender o que aprendi.
Não sei mais por quanto tempo viverei nessa terra e tenha certeza que muito quero fazer por aqui. Mas a morte já não me assusta mais, pois sei que deixei um pedacinho meu em cada uma dessas pessoas que me fitam com seu carinho neste almoço de domingo.
Uma nova manhã chegará e eu estarei aqui, contemplando este belo presente que ganhei, a vida.
2 comentários:
Cabeça... passei este texto para o pessoal do meu trabalho... adoraram. To fazendo seu mkt...hauhaua
bj, Amanda
São as coisas mais simples da vida que fazem o sentido do viver.
Esse texto é do caralho !!!
Concordo plenamente com tudo e principalmente com fato de nos preocuparmos demais e vivermos de menos...
Bjin bem grande nadador...rss
Alê
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