Foi lá no sítio do Valdir durante o feriado de Corpus Christi.
Naquela época você não era minha Suzana.
Era apenas a amiga da Mariana.
A amiga da Mari que descansava a cabeça no meu colo.
Vi seus olhos fecharem em paz e em alegria.
Diferente dos mesmos olhos que vejo agora.
Não entendo porque você realmente quer partir, Suzana.
Se é do seu desejo, não posso fazer nada.
Mas por que tanto chora?
Já se passaram mais de duas horas que você está ai acabada no sofá.
Duas horas de olhos marejados.
Agora está fria, Suzana.
Seu rosto empalideceu.
Não se move mais. Congelada pelo teu coração.
São raras as palavras que saem da sua boca.
Entre as lágrimas, balbucia frases desconexas.
Muito diferente da minha Suzana falante
Que adorava trocar confidências nos intervalos do sexo.
Medo de amar, vontade de ser mãe, ter uma casa em Ibiúna.
Aquela Suzana agora só é um pretérito imperfeito.
Já são três horas, Suzana. É domingo.
Preciso trabalhar amanhã. Não posso mais aguentar isso.
Quer que eu diga, é isso? Não tens coragem?
Isso me tortura, Suzana.
Sou eu que devo matar nosso amor na última da palavra?
Agora quem é o covarde, hein?
Não foi isso que você disse que eu era,
lá na pousada em Ubatuba quando tivemos um quebra-pau por causa do teu primo alcóolatra?
Tudo bem, eu falarei.
Já não aguento mais esse sofrimento.
Chega. Acabou.
Esse é o teu desejo.
Prefiro ter a palavra final do que esse teu lamento sofrido.
Vai embora.
Vai pra casa da Mari.
Será mesmo um alívio.
Já se passou quase uma semana que por aqui você não aparece.
Não deu notícias e eu tendo que conviver com a sombra das tuas coisas.
Pois quer saber?
Eu mesmo é que estou abrindo seu armário.
Recolhendo suas roupas, enquanto você apenas assiste.
Coloquei tudo naquela mala de viagens que sua tia de NY emprestou pra gente e você nunca devolveu.
Você nunca devolve nada mesmo.
Tá tarde.
Vai. Preciso ficar só e me recompor.
Tuas coisas já estão no porta-malas do carro..
Aquele mesmo que carregou o armário da Tok Stok que a gente comprou
e colocou no teu carro porque ficaria mais barato.
Se coube um armário, porque não caberia essa tua indiferença agora?
Vai Suzana. Deixa o controle. Deixa a chave.
Quando sair, deixa nosso amor na frente do prédio.
Quem sabe na terça o lixeiro passa recolhendo…
Adeus.
*Inspirado na música "Que seja bem feliz" de Cartola
http://www.youtube.com/watch?v=eubjeTCiUbY
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