6 de setembro de 2014

Meu primeiro encontro

1. Meu primeiro encontro dos tempos analógicos

Querido diário,

Conheci uma garota que me deixou mais estranhou do que a vez que tomei cinco Yacults. 

Foi durante o baile do tio Alex no acampamento do NR. 

Era uma roda onde as meninas ficavam no círculo de fora e os meninos no circulo de dentro. 

Toda vez que a música parava, a roda girava e os meninos trocavam de par. 

Fiquei ali rodando que nem barata tonta ouvindo Laura Pausini. 

Foi quando ela apareceu. Era alta. Nem parecia que tinha 12 anos. Ela me deu sua mão quentinha e começamos de novo. Em pé de valsa. Dois pra lá e um pra cá. 

Coloquei a cabeça no peito dela e fiquei lá. Tinha um cheirinho de leite de rosas. Aquele da embalagem rosa, sabe? Tava tão bom que nem ouvi a música acabar. 

O Marquinhos percebeu que eu não ia mudar e foi direto para a outra garota do lado. O Fábio me disse que todo mundo ficou me olhando, porque eu fui o único menino que não mudou de par naquela noite.

Quando acabou a brincadeira, eu não queria que ela fosse embora. 

Perguntei se o quarto delas tinha perdido ponto por não arrumar a cama. 

Pra minha surpresa, ela adorava conversar. Ficamos ali a noite inteira. 

Lembro até que ela me falou que seu o pai via espíritos. Eu perguntei o que é espírito. Ela me disse que é o você vira quando morre. E que espírito faz tudo igualzinho o que a gente faz aqui. Só que diferente. Fiquei confuso, mas ela me disse pra ler "Violetas na Janela" que eu ia entender.

Comprei o livro assim que cheguei em casa. 


O livro está comigo até hoje. Já li ele várias. 

Ela, eu sempre procurei, mas nunca mais encontrei.

2. Meu primeiro encontro dos tempos digitais

Querido secret,

Hoje meu Tinder deu match com uma garota. Decidi puxar assunto. Perguntei o que ela fazia. Disse que era arquiteta. Eu disse que legal. Ela perguntou o que eu fazia. Eu disse que era publicitário. Ela disse que legal. Fiz mais uma meia dúzia de perguntas até pedir o Whatsapp dela. Ela me deu o número e eu já convidei pra sair. Fomos num bar na Vila Madalena. No caminho nos falamos mais uma vez pelo Whastapp. Estou perto. Estou chegando. Estou na porta. Oi, Fernanda? Nos encontramos, sentamos na mesa, cada um de um lado. Fizemos algum comentário bobo de qualquer coisa. O garçom apareceu o nos entregou o cardápio. Silêncio. Ela olhava o cardápio. Eu também. Não queria nada. Puxei assunto de novo. Perguntei se morava longe daqui. Ela disse que não. O garçom apareceu de novo quebrando a proximidade que construí. Pedi um suco de laranja. Ela uma cerveja. Inventei que não estava bebendo por causa dos antibióticos. Um dia ela vai descobrir que eu não bebo nunca. Falamos de mais algumas amenidades. Ela me falou da mudança dela. Falou do cachorro. Do ex-namorado insensível. Eu falei da vida em agência de propaganda. De corrida de aventura. Falei mal do Tinder. Ela também. Comemos alguns petiscos. Não me lembro do que era. Ficamos em silêncio por um tempo. Climão. Ela foi ao banheiro. Pedi a conta. Ela voltou do banheiro. Mencionou pagar. Eu disse que fazia questão. Pensei na minha conta em vermelho no banco. Rezei pro cartão passar. O cartão passou. O garçom foi embora. Climão máster no ar. Hora da despedida. Ninguém sabe o que faz. Dois corpos estranhos. Meio abraço. Meio beijo no rosto. Ela pede um taxi. O taxi chega. Ela entra no taxi. Eu vou embora. Com o Tinder na mão.

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