11 de maio de 2008

Querida mãezinha

São Paulo, domingo, 10 de maio

Querida mãezinha, comigo tá tudo certo.
Não tem o que se preocupar.
Eu sei que a senhora ficou irritada
quando conheci o Ricardinho e resolvi te abandonar.

Foi melhor assim.
Você realmente não ia entender
O carinho que ele tem por mim.
Como você nunca entendeu
quando cheguei toda roxa depois do jogo do Timão,
quando ele, no fundo da sua tristeza,
me deu um safanão.
Mais errada fui eu em falar da segunda divisão.

Sabe mãe, hoje tenho tudo o que quero,
até aquela boneca que a senhora nunca me deu.
A diferença é que ela faz xixi na cama
e acorda com a fralda toda enxarcada.
O Ricardinho me dá um tapa na cara
e eu levanto para ver o que aconteceu.

Diz para o papai também não se preocupar com dinheiro, viu?
O Ricardinho disse que tudo vai melhorar,
quando ele entrar para a polícia civil.
O Ri é homem trabalhador mãe.
Sempre chega no alto da madrugada
e eu me aperto toda aflita no portão.
Sabe mãe, eu fico preocupada com essa
onda de assalto, esse bando de ladrão.

Às vezes eu não aguento e chochilo.
Ele, ai que lindo mãe, pra não me acordar,
dorme com a roupa toda suada no sofá.
Algumas vezes até vomita no tapete.
Deve ser o tal do stress, mãe.

Olha, um dia ainda te convido para vir me visitar.
Só não te chamo nesse domingo,
porque ontem choveu, o barraco cedeu
e a defesa civil disse que aqui a gente não pode ficar.
O Ri disse que a gente vai para um motel,
que vai ser nossa segunda lua de mel.

Agora eu tenho de ir,
que a PM tá mandando a gente vasar.
Mas assim que eu souber nosso novo endereço,
eu te mando, tá?

Feliz dia das Mães.

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