22 de dezembro de 2008

Pedaladas

Há muito tempo que não fazia isso. Confesso que um pouco desaprendi. Mas escrever é como dar suas primeiras pedaladas. Tudo está no impulso. É a primeira pedalada, seguida de outra. É a primeira palavra seguida de outra. A única diferença é que bicicletas têm freio. Escrita, não.

Você se lembra da sua primeira pedalada? Pois eu lembro da minha. Foi como se eu simplesmente relembrasse de algo que estava há muito tempo na memória. De um segundo para o outro, as rodinhas de apoio ficaram tão pequenas quando os meninos da quinta-série. Meninos que já foram bem maiores que eu e você.

Se você não tem irmãos mais velhos, provavelmente nunca teve o sabor de contar que seu irmão já estava na quinta-série. Neste momento, estas crônicas já não devem fazer muito sentido.

Mas não se importe muito com isso, não. Muitas coisas na vida não fazem sentido e a gente passa por elas como meninos de rua no farol: sua presença nos incomoda, mas fazemos questão de fingir que elas não existem.

Coisas sem sentido como um dente do siso, como ter vesícula. Ou algo mais sobrenaturais como usar terno e gravata no calor ou até guardar papeizinhos nas gavetas. Papeizinhos que nunca vamos ler novamente, mas que estarão por lá: nas gavetas, nas gaivotas.

Algumas pessoas guardam tanto em suas gaivotas que deveriam ter fichários, armários, escriturários e obituários de lembrança.

O que você guardou de mais estranho em sua gaivota? Filmes nunca revelados? Pilhas gastas que um dia colocaremos no congelador? Cartas que nunca mandamos, mas que gostaríamos de receber? Cartões de visita de pessoas que nos lembram que precisamos fazer coisas que nunca faremos?

Cuidado com o que você coloca em suas gaivotas. Lembranças geralmente não têm tamanho definido. Como esta crônica aqui.

Uma crônica que vai parar no fundo da minha gaivota. Uma carta sem sentido, como estudar a quinta-série. Sem sentido, mas com a importância das primeiras pedaladas da bicicleta. Tanto que você não esquece nunca. Como eu esqueci que tenho de tomar banho e não parei de escrever.

Lembra que escrever não tem freios? Me esborrachei!

Um comentário:

Anônimo disse...

espero q vc nunca se esqueça de como é bom "pedalar"...pois eu adoroooooo ler seus textos... são cheios de vida ... e é isso que os fazem tão belos, harmônicos e poéticos... bjos Amanda