14 de janeiro de 2009

O porquê de não dar bom dia no trabalho

A balada atravessou a madrugada. Na bebedeira você caiu em um encosto e ficou por lá. Acordou às 6 horas na companhia de um faxineiro e sem a companhia da sua carona. Você está só.

Paga aquele litro e meio de Absolut que nocauteou você e sua conta. Está agora sem um puto no bolso, precisando voltar para casa.

Ainda bem que hoje é sábado e você não precisa ir trab... Pera ai! Você só estava no bar porque seu carona era nada mais que seu chefe, que o havia convidado para sair com uns alemães que vieram ao Brasil para uma reunião de negócios; e se você estava mostrando o jeito brasileiro de curtir festas, é porque a reunião é simplesmente às 9 horas.

Pena que você ainda tem que se trocar, tomar um banho – não necessariamente nessa ordem, é claro – pegar o carro, enfrentar a 23 de Maio e chegar a tempo para a reunião.

Hoje não vai dar para levar o Platão para passear. Agora você se toca que só uma besta como você pode fazer isso. Digo, dar o nome de um filósofo a um Poodle.
Você não tem como ir embora.

Por sorte a casa de sua ex-namorada fica a três quadras dali. Você precisava mesmo pegar suas roupas. Quem sabe ela não te arruma um sabonete também, pelos velhos tempos. E um xampu, e uma lâmina de barbear, e uma pasta de dente, porque esse teu bafo de cangibrina vai te denunciar.

No desespero você nem lembra o porquê vocês terminaram. Mas o pai dela, vestido de pijama, e tendo visto sua filinha querida chorar por semanas seguidas, sabe bem o motivo. O velho só não abriu a porta com sua Garrucha, pois não quis ficar falado na vizinhança. Mas a cara dele era de poucos amigos. Mas como naquela situação você também não tinha amigo nenhum, você era exatamente quem ele estava procurando. Após as explicações necessários com coisas como “meu carro quebrou”, “acabei de fugir do cativeiro”, “parei apenas para dizer um Oi”, o velho manda você entrar.

A família de dois irmãoes, a mãe, avó, uma ex-namorada e o namorado jiu-jiteiro, que antes dormiam de fronha e chupeta, estão todos na sala. Olhando para sua cara. Você, como Madalena, só não tomou pedrada, porque o irmão maconheiro e cabeludo e de apelido Jesus, interveio na história. Deram-lhe o último banho.

O banho serve para duas coisas. Um: deixar um pentelho no sabonete e Dois: ficar aliviado. Minto! Você descobre segundos depois que é preciso aliviar aquele escondidinho e provolone empanado. Dá um belo cagão e descobre que não há papel higiênico. Pedir papel é sempre uma humilhação. São coisas que te pegam de calças curtas.

Após sua estada em território inimigo, você deixa o recinto “sob o olhar sanguinário do vigia. Você não sabe como é caminhar com a cabeça na mira de uma” Garrucha, Mano!
Limpo e de roupa limpa (um moletom e calça bag), você está pronto para a reunião de negócios com os alemães. Há só um porém: como sair dali? Desespero! São 8h30.

Tá ferado rapaz!

O jeito é dar pegar um gato no cobrador. Você toma o primeiro Lapa-Penha, anda calmamente até o cobrador, esperando o ônibus estar em movimento. Só assim para não ser expulso. É hora de mais lamentação. O cobrador até que é gente boa. Manda você passar por baixo da catraca. Qualquer cobrador se diverte com desgraça alheia.

Você se deita e desliza suavemente até passar por baixo da catr...ops! Só agora que lembra que deveria emagrecer. Está preso embaixo da catraca com uma fila de gente querendo passar. Em situações como essa, o povo é solidário. Alguns dos passageiros tentam te puxar pelo pé. Outros te empurram a cabeça com o sapato. Lombada! Ai! Essa deve ter doído...

Ainda bem que o tranco ajudou a destrava parte daquele último churrasco do final de semana. Agora sim, está a caminho do trabalho.

Apenas uma nota neste momento: o único lugar disponível para sentar é ao lado de uma garota linda! Daquelas que você sempre sonho. O olha que ela te mandou quando você senta ao lado dela te fez ir mais para baixo do que a catraca do ônibus.

É o ponto.

Caminha algumas quadras. 10h45! Meu Deus! Você corre loucamente como um maratonista algumas ruas a mais.

Sujo, suado, de moletom e calça bag, você chega ao trabalho.

Passa pelo porteiro que te olha estranho. Será que ele também sabe da reunião? Sobe no elevador sob a trilha sonora dos últimos sucessos de Richard Cleidman. “Mas quatro andares...MORRE Richard Cleidman”, você pensa.

Chegou no andar. Você tenta recobrar o mínimo de dignidade e sai pelo elevador.
Na porta de entrada encontra com a secretaria e a moça do RH. Assustado, você pergunta:

- Gente, em que sala que é a reunião com os alemães?

- A reunião? – pergunta a secretaria – A essa hora ele devem estar comendo chucrutes.

Sim você está puto. Quer morrer.

Para não enfartar na frente das moças sai andando e batendo o pé.

Elas comentam:

- Mal-educado esse garoto né? – Diz a moça do RH.

- É verdade... nem para dar um bom dia... mas um dia ele aprende...

Um comentário:

Anônimo disse...

hahahaha... ainda bem q não li esse texto no meu trabalho...morri de rir.... animal.. imagina a situação desse cara, acho q devam existir situações como essa na vida real... excelente. bjo Amanda