Logo as passeatas irão passar.
Sem lideranças claras, grupos organizados e
reivindicações tangíveis, como são vinte centavos ou a violenta repressão
policial, tudo isso acabará rápido. As últimas manifestações são como espuma de
mar revolto pós Tsunami.
As pessoas se cansam de ir para a rua a todo momento.
Dá bolha no pé atravessar São Paulo gritando palavras de ordem. Se cansam de
brigar por pautas tão genéricas quanto o fim da corrupção e a favor da saúde e
da educação.
Logo as passeatas irão passar.
Mas o que ficará delas?
Mais do que multidões nas ruas, balas de borracha e
palácios depredados, as manifestações criaram símbolos. Imagens poderosas que ficaram
para sempre na cabeça de toda uma geração.
Imagens que têm o poder de mudar o comportamento de
uma boa parcela da população que é muito mais danoso que as vidraças quebradas
e os carros incendiados.
Bem pouco tempo atrás, antes dessa onda de
manifestação acontecer, ai de você se puxasse o assunto sobre a distribuição
dos royalties do petróleo ou sobre projeto de lei que submetia as decisões do
STF à Câmara em uma roda de conversa.
Nessa hora, surgiriam discursos cansados e rasos como
a “corrupção desses políticos ladrões”. No pior dos cenários, o mais comum,
você seria ignorado. Afinal não vale a pena perder tempo com isso. Logo alguém puxaria
outra conversa. Talvez a do amigo que mudou seu status no Facebook.
Para essas pessoas, espero que as manifestações tenham
tido um efeito biológico educativo, como um vírus que mostre que se interessar por política é da hora. Que mostre o quão emocionante é lutar de forma coletiva e organizada por causas justas e
concretas.
Era visível no rosto o prazer de cantar “O Povo
Acordou”, mesmo que fosse só para dar uma volta na Faria Lima e tirar fotos no
Instagram.
Se algo ficar das passeatas, espero que seja esse
vírus vibrante e interessado pela política real. Um vírus que contamine todos
para tornar a discussão política algo profundo e vibrante como são as conversas
sobre os vilões da última novela das 9.
Afinal, como disse o sociólogo espanhol Manuel
Castells no último Fronteiras do Conhecimento, a dominação de um povo não faz
por tanques. Se faz por ideias. Um povo dominado é aquele que desiste de
discutir a sério a política.
Portanto, amigo manifestante, se você realmente teve prazer de gritar nas ruas “O Brasil acordou”,
espero que ele tenha desperto de verdade para a discussão política e não só
aquela acordada para depois olhar que ainda dá pra dormir mais alguns
minutinhos.
Porque, visivelmente, não dá mais.
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