24 de junho de 2013

Super-amigos ativar: forma de consciência política

Logo as passeatas irão passar.

Sem lideranças claras, grupos organizados e reivindicações tangíveis, como são vinte centavos ou a violenta repressão policial, tudo isso acabará rápido. As últimas manifestações são como espuma de mar revolto pós Tsunami.

As pessoas se cansam de ir para a rua a todo momento. Dá bolha no pé atravessar São Paulo gritando palavras de ordem. Se cansam de brigar por pautas tão genéricas quanto o fim da corrupção e a favor da saúde e da educação.

Logo as passeatas irão passar.

Mas o que ficará delas?

Mais do que multidões nas ruas, balas de borracha e palácios depredados, as manifestações criaram símbolos. Imagens poderosas que ficaram para sempre na cabeça de toda uma geração.

Imagens que têm o poder de mudar o comportamento de uma boa parcela da população que é muito mais danoso que as vidraças quebradas e os carros incendiados.

Bem pouco tempo atrás, antes dessa onda de manifestação acontecer, ai de você se puxasse o assunto sobre a distribuição dos royalties do petróleo ou sobre projeto de lei que submetia as decisões do STF à Câmara em uma roda de conversa.

Nessa hora, surgiriam discursos cansados e rasos como a “corrupção desses políticos ladrões”. No pior dos cenários, o mais comum, você seria ignorado. Afinal não vale a pena perder tempo com isso. Logo alguém puxaria outra conversa. Talvez a do amigo que mudou seu status no Facebook.

Para essas pessoas, espero que as manifestações tenham tido um efeito biológico educativo, como um vírus que mostre que se interessar por política é da hora. Que mostre o quão emocionante é lutar de forma coletiva e organizada por causas justas e concretas.

Era visível no rosto o prazer de cantar “O Povo Acordou”, mesmo que fosse só para dar uma volta na Faria Lima e tirar fotos no Instagram.

Se algo ficar das passeatas, espero que seja esse vírus vibrante e interessado pela política real. Um vírus que contamine todos para tornar a discussão política algo profundo e vibrante como são as conversas sobre os vilões da última novela das 9.

Afinal, como disse o sociólogo espanhol Manuel Castells no último Fronteiras do Conhecimento, a dominação de um povo não faz por tanques. Se faz por ideias. Um povo dominado é aquele que desiste de discutir a sério a política.

Portanto, amigo manifestante, se você realmente teve  prazer de gritar nas ruas “O Brasil acordou”, espero que ele tenha desperto de verdade para a discussão política e não só aquela acordada para depois olhar que ainda dá pra dormir mais alguns minutinhos.

Porque, visivelmente, não dá mais.

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