20 de janeiro de 2014

Quando chegar a hora

Um dia, eu também vou voltar. Cansado de uma longa e intensa viagem. Minha mãe também estará aflita no portão, vasculhando a rua em busca de algum sinal meu. Quando chegar, também vou ganhar aquele carinho no cabelo. Quem sabe não pinta uma lágrima, logo secada no pano de prato.

Meus irmãos chegarão, com a Juca atrás abanando o rabo. Todo mundo virá pra carregar as malas. E quantas malas eu vou estar carregando. Gente como a gente, precisa de muitas pra guardar todas as histórias que adoramos viver.

Assim que passar pela porta, vou ter a sensação de que o tempo por lá não passou. Acho que na nossa casa ele só passa uma vez por semana, junto com o moço dos Correios. Claro que minha mãe terá algo pra contar da decoração – "seu pai mexeu aqui e ali". Mas em casa, tudo muda só pra continuar como sempre foi.

Com calma, vou deitar e cochilar um pouquinho. Minha viagem terá sido longa. Ter medo do mundo cansa. Medo de não ser quem todo mundo espera. De não ser aceito. Do dinheiro não aguentar até final do mês. Medo de não pagar o aluguel.

Deitado no primeiro berço, não vou precisar me preocupar mais. É só se deixar levar pelo som da panela de pressão cozinhando o feijão ou das louças lavadas na pia. Nesse barulinho bom, vou indo, indo pra cada vez mais sentir que cheguei.

Quando a gente se vai, nunca pensamos em voltar. Bobagem. Um dia, todos voltaremos. Pode até ser que sua casa não seja igual a minha. Pode ser até que ela não exista com concreto e chaminé. Pode ser um braço ou melhor, um abraço. Dos que resumem toda a saudade do mundo, acumulada por anos-luz de distância.

Mas precisamos de casa. Pra ela é que voltamos quando a aventura termina – e se termina é porque outra precisa começar. Essa é nossa vida. Ir para voltar. Melhor do que quando fomos, mas nunca maiores. Afinal, nunca seremos do tamanho do amor que nossa casa tem aos nos receber. 

Por isso precisamos partir. 
Partir pra ter a delícia de voltar.

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