16 de março de 2014

Cartinha pra primeira namorada

Ontem fazendo a mudança na casa da minha mãe encontrei no meio do quartinho de bagunça uma sacola empoeirada.

Nela havia várias jóias que o tempo tinha apagado o brilho. As jóias eram todas as cartinhas que você me deu quando namorávamos, 15 anos atrás. Mas bastou abrir e ler uma por uma pra que elas pudessem voltar a brilhar com frases como:

“Triste que a gente vai sair de férias e não vamos poder ficar juntos”

“Que bom que você veio estudar aqui em casa”

“Preciso ir, tenho aula do Anchieta, mas amei a lapiseira que você me deu"

Essas palavras me fizeram lembrar daquele sentimento ingênuo que nasce com o primeiro amor. Um sentimento pouco diferente do que temos quando adulto, já calejado de tanta desilusão. Hoje um "te amo" sai medroso, com muito mais prudência e canja de galinha.

Mas nas suas cartas não, eles estavam sempre lá.

Suas não. Ou melhor, não da mulher casada que já pensa em ter filhos. Aquelas cartas são daquela garota medrosa, risonha e amorosa que nesse domingo apareceu aqui em casa.

Se tive sorte de reencontrá-la de novo, mais sorte ainda tive de viver meu primeiro amor em um tempo em que namorados realmente se escreviam.

Fico pensando no futuro. Como as pessoas poderão ter essa sensação de boa se as cartas hoje estão mais para mensagens de Whatsapps e Facebook? Por mais que existam históricos em servidores da Califórnia, nas nossas cartinhas as palavras eram o que menos importava.

Com as linhas tortas, desenhos e corações pintados ainda hoje consigo sentir o carinho daquela menina. Em cada um dos bilhetinhos ela vacilava:

“Isso não está bom, eu ainda não disse o que queria dizer”.
Coisas que só acontecem quando a gente escreve uma carta.

Por isso, nessa noite, queria te agradecer em forma de... carta.
Claro, sem a grandeza de cada bilhetinho que um dia recebi.

Uma carta que talvez se perca nesse mundo efêmero. Talvez você nem leia.

Mas uma carta que registre no cartório da internet a alegria que senti. E que no final feche com um pedido de primeiro namorado:

Se hoje você deixou de escrever cartinhas para o seu amado, seu marido, por favor, volte. O mundo realmente precisa desse sentimento gostoso que vem junto com a folha embrulhada.

Seja quando a gente recebe uma cartinha ou quando a gente reencontra com ela no fundo de um quartinho de bagunça.

Obrigado.
Danilo

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo Danilo, me emocionei...
Compartilho meu desejo de que as pessoas se permitam e escrevam mais... Que vivam vidas de verdade e não vidas que elas criam para parecerem interessantes.
Beijos saudosos da amiga Amanda Vicente