26 de outubro de 2014

Gente que seca

São Pedro, molha minha cidade. 
A cidade do teu irmão tá precisando de água. 
Já faz muito tempo que não se vê uma viva uma gota caindo do céu. 
Por aqui, só poeira e a fuligem que vem dos carros.
Água mesmo só se for do suor dessa gente que trabalha até mesmo sem saber pra quê.

São Paulo, é cidade grande demais pra não ter água. 
Se por aqui já não existia amor, sem água não vai sobrar nada.

Por aqui, não é só o rio que seca, a planta que murcha, a terra que racha.
Em São Paulo, seca também seca gente.
Gente que não sorri, não abraça, não se preocupa.
Gente que fica seca.
Como grão de areia no calor do dia. 
Não alivia. Só atrita, esfola e rala. 
16 milhões de grãos, São Pedro.
Enquanto a chuva não vem, 
É cada um por si e sol pra todos. 

É por isso que a gente tá precisando de água. 
Por que a água mistura. Lava o coração dessa gente toda empoeirada. 
Deixa a alma mais fértil e gente mais colorida - numa cidade que já é cinza demais.  

Por isso, São Pedro, eu te peço. 
Traz água pra gente. 
Pra que essa cidade não vire só pó e solidão.
Pra que essa terra não fique mais pesada do que já é.

Vai São Pedro. Abre a torneira rápido,
porque já tem muita gente secando por aí.

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