7 de maio de 2009

Carta ao jovem quero ser.

Agora que decantaram-se as emoções, talvez possa contar melhor a vocês meus amigos virtuais a experiência que passei. Sendo mais específico, este relato vai a você mocinho recém ingresso na faculdade de propaganda.

Mas primeiro perguntarei. Você, certo de suas convicções, que área da propaganda você sonha em trabalhar? Criação! Bingo! Imaginei essa resposta. É o que mais se escuta nos primeiros anos da faculdade.

Eu quero ser Diretor de Arte. Quero ser redator. Quero ser rico. Quantos queros sers. Há espaço para tanto desejo assim?

Pois bem, meu caro jovem publicitário. Eu também quero ser todas essas coisas. A história que te conto é uma breve experiência de quero ser. Vou ser o mais claro possível para não soar como aqueles profissionais tarimbados e com milhões de doláres na carteira.

Deles você vai ler e ouvir muito sobre a propaganda. Eles vão meter um puta medo em você. Mas ao ver eles sairem com seus utilitários importados, você tem mais gana em seguir em frente.

Bom, eu não fiquei rico com a propagada. Estou tão no começo quanto vocês. Mas queria comentar uma experiência que tive essa semana com esse lance de Quero Ser. Neste caso, redator.

Sempre tive esse sonho. Me imaginava como um redator, com um charuto, de madrugada, escrevendo peças maravilhosas em meu Macbook - se fosse algumas décadas antes, seria com minha Olivetti Lettera 35 e um copo de scotch ao lado.

Sempre bati nesse sonho até uma semana atrás.

Segunda-feira, um amigo me ligou e disse: tenho um freela para ti! Redator, meu caro. Topas?

Porra, era tudo o que eu sempre quis nessa minha vida de masturbador de idéias. Mas eu fiquei com medo. "Será que eu dou conta?"

Estava em férias, não fazendo nada a não ser videos de extraterrestres no Youtube e videos pornôs. Aceitei.

Terça-feira liga o dono da agência me convocando para ir para lá em minutos. Era de extrema urgência. Me senti como o Dr. House no final do episódio indo consertar a cagada dos auxiliares.

Cheguei por lá e fui direto para a sala do homem de fino trato. Ele contou o que era mais ou menos o job. Na verdade, ele contou bem menos, afinal nem ele sabia. Esse é o mal das pessoas que tem muitas informações. Elas contam o filme com a vontade de quem já viu o final do filme.

Enfim, não entendi porra nenhuma. Mas até ai foda-se! Eu ia ser o redator.

Mas deixe-me esclarecer o que era para não ser igualzinho ao dono da agência. Era uma concorrência de uma campanha promocional de um grande cliente de automóveis. Olha aonde eu fui me meter...

Tratei logo de abrir meu macbook que comprei em 12 vezes e ainda estou na quarta prestação e comecei a escrever.

Eram 18h30 chegou a responsável pela conta e mandou parar tudo que eu tinha feito. Estava tudo errado. O dono, como todo dono, não sabia lhufas e passou tudo errado.

A moça me arrastou para dentro de uma sala e começou a despejar informação atrás de informação. Sinceramente, temi pela saúda dela. Os batimentos cardíacos dela estavam como aos de um jogador do Big Brother em dia de paradão (Dá-lhe Danilo!).

A reunião terminou às 21 horas. Estava em plenas férias e trabalhando como gente grande. Ficou acertado que na primeira hora do dia seguinte, deveria apresentar o slogan da campanha.

Porra começou já no modo hard. Logo Slogan que é um resumo de toda uma campanha que eu mal sabia o que era. Era como se seu primeiro adversário do Street Fighter já fosse o Bison (Você está impossível hoje, moleque!).

Até engolir toda aquelas informações, eram 11 horas da noite. Fui para a casa. Antes arrematei um Burger King, pois como todo redator que se preste, você tem que foder com saúde, já que não bebo nem fumo charuto.

Eram meia-noite eu tinha um slogan para criar. Madrugada, silêncio, bossa-nova de fundo, somente a tela do computador no escritório. (Agora vai uma aplicação dúbia do palavrão:) Poético para caralho, certo? Poético é o caralho! A coisa tava feia.

Cheguei no ponto G que eu queria.

Meu querido amigo Quero Ser Redator. Você achou tudo lindo até agora, certo? Pois é, eu também até a hora que tive que enfrentar a tela branca do word.

A tela branca do word é a sua pior inimiga. Ela é o seu Godzila, sua Cuca, seu Darth Vader, Seu Gargamel.

Ela ali olhando para minha cara e dizendo: "Vai babaca, você não queria isso? Não dizia que estava preparado? Então vamos ver! Cria ai!"

Temi!

Levantei e fui tomar um ar. Depois tomei um copo d'água. Depois tomei coragem em doses cavalares.

Sentei na frente da tela branca do Word e a minha cabeça simplesmente deu pau. Não vinha nada! Aliás, veio desespero.

Eram 1h30 da madrugada e eu tinha no máximo um slogan. Podre ainda por cima.

Liguei para meu amigo. Afinal, ele tinha me colocado nessa e teria que me dar uma luz. Foi até uma sábia decisão. Consegui algumas idéias da cachola dele.

Achei que a coisa ia de vez. Sim, estava mais inteligente, estava mais esperançoso, estava mais forte... até a hora que voltei a sentar na frente do computador.

Eu juro! Eram três da manhã e nada de proveitoso.

Quatro da manhã, com os olhos ardendo, escutei os primeiros cantos dos galo da vizinha. E nada que fosse bom.

Cinco da manhã joguei a toalha. Eu não prestava para aquilo mesmo. Decidi dormir alguns minutos.

Acordei atrasado para caralho. Levantei, salvei o que tinha feito no word e sai correndo para a agência.

No ônibus lotado, tentei escrever algumas idéias no meu celular. Talvez, depois do sono pudesse vir a idéia matador. Que nada...

Cheguei na agência e o dono - aquele que não sabia nada - já me chamou para uma reunião para discutirmos o slogan.

Peguei as minhas parcas idéias, minha cara de pau e meu sono e fui. Cara e coragem, comecei a ler tudo o que tinha feito. Ele não gostou de nada e mandou fazer mais.

O quê? Fazer mais? Virei a madrugada, meu olhos estão ardendo e ainda tive escutar faz mais? Tudo isso nas minhas férias.

O desespero foi geral. Fiquei mal, fiquei assustado e quase pensei em ligar para um psicólogo para contar da minha desilusão. Como não tinha o telefone de nenhum por perto, voltei a escrever. E não saiu nada!

Tentei pegar pela acepção da palavra, tentei fazer brainstorm, tentei buscar no dicionário, tentei buscar frases de famosos, provérbios, expressões culturais, gírias, livros, vídeos, consultas com pai de santo...

Minha cabeça estava mais seca que o agreste.

Voltei para a sala de reunião com algumas outras frases tão cara de pau quanto aquele que vos escreve. Ele acabou escolhendo um que era o menos pior. Ainda escolheu com aquela cara de nojo quando a vó da gente manda comermos abacate.

Fiquei mal. Fiquei bloqueado que não consegui escrever sequer o cartão de aniversário da minha namorada:

"Amor, você é... vocé é um... meu amor por ti é... eu sou... meu amor, você merece tudo no mundo, você merece mais que meu amor, merece... caralho! Não conseguia sequer uma figura de linguagem".

Para não terminar a história como um filme cult, tivemos uma reunião, eu, o dono da agência, a responsável pela conta e a equipe de Web - uma agência contratada de fora que trabalhava só com cliente top.

No meio da reunião, os caras da agência Web destruiram a direção de arte nossa. Disseram que aquilo não era bom e tal. Quando ouvi aquilo, fiquei só esperando eles descascarem a redação. foi quando ouvi:

"Nós achamos que o slogan está fudido! Dê parabéns ao redator de vocês, ele mandou muito bem!"

Olhei para a cara do dono da agência com a mesma cara que o Ronaldo olha para todos aqueles jornalistas que chamam ele de gordo. "Chupa!"Pensei com meus botões do teclado. O dono fez um gesto de parabéns e seguiu a reunião.

Meus amigos, o desespero foi grande. O nervosismo foi altíssimo. O freela durou uma semana com trabalho em praticamente toda madrugada, feriado, sábado e domingo. Quanto terminou levei para casa uma gripe, uma dor de dente, uma alergia e um parabéns do dono.

Criar, meus caros, não é poético. O angustiamente. Sobre pressão é angustiante e estressante. O corpo é colocado em uma situação limite. Não é uma experiência tão bonitinha e engraçada como parece. Portanto, se vocês amam esse verbo, como eu, e estão dispostos em seguir em frente, saibam dos riscos.

Criem. Eu ainda quero ser redator. Mas quero minhas férias por hora.

3 comentários:

Joyce Mescolotte disse...

#gagoto até q não foi tão ruim assim, vai!
Bjox

Joyce Mescolotte disse...

#gagotoooo vaii até q não foi tão ruim assim.

Diário de uma frase só disse...

você é gay?