5 de setembro de 2011

Ode a minha vitrolinha


Você me abandonou quando ainda era criança.
Numa época onde os homens buscavam as mais velhas,
Você me trocou por uma mais nova, por uma stéreo.

Calei-me por dias, meses, décadas.
Vi você crescer de longe, sem nada poder...
Por anos afim não pude te consolar quando chorou,
Te alegrar quando vibrou
Te inspirar quando a alma te tocou.

Ouvia nas noites vozes de outras, cristalinas e sem alma.
Só te faziam desinteressar por aquilo que sempre te dei.

Me risquei, assim como você me riscou.
Me espetei com a sua velha agulha enferrujada
que tocou suas últimas do Trem da Alegria.

Mas a esperança não me deixou morrer.

Dias atrás, por obra daqueles improvisos bem jazzísticos, eu voltei.
Voltei para você me ouvir.

Escuta aqui o que eu tenho pra te falar.
Apesar dos seus cassetes,
Ninguém vai lhe tocar como eu te toquei.
Querido, só minha rouquidão para te dar prazer.

Voltei para ocupar o centro do seu quarto.
Hoje a velha Xuxa deu espaço para Bethânia.
O velho deu para o Caetano.

Mas meu espaço, esse meu bem, ninguém me tira mais.
Nem que eu tenha que gritar até a última rotação.

Mas agora que estamos bem, só peço que me escute.
Escute-me bem. Disco também é cultura.

3 comentários:

Mauro Vieira Bravo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mauro Vieira Bravo disse...

Gostei! Pois é... parece que ela está de volta!

Anônimo disse...

que lindo, Danilo.
Abs Amanda ... ;]