*Inspirada na música "O Mundo é um Moinho" de Cartola.
Mais uma vez ela apareceu na minha casa. Chegou debaixo de um temporal de verão e tocou a campanhia. Pela janela, vi que estava toda encharcada, desamparada no portão. Deixei que entrasse em minha casa.
Dei toalhas secas, ofereci banho quente e um café feito ainda naquela manhã de segunda-feira. Como estava cansada de se aventurar pelo mundo, aceitou a ducha, as toalhas, as roupas de cama bem passadas e o colchão confortável.
Deitou e dormiu ali como criança.
Agora dorme tranquila. Já não é mais atormentada pelo sons angustiantes da rua. Chicotes de vento não açoitam mais seu dorso. Seus pesadelos se foram e pode até sonhar.
De vez em quando, caminho até seu o quarto e com cuidado abro a porta para vê-la dormir como um anjo, torto.
Dotada de uma alma vermelha, arredia e fulgás, pode a qualquer momento sumir pelas sombras da vida. Por isso, procuro tratar bem, falar baixo, pisar leve, não acordá-la. A qualquer descuido, logo se vai e voltarei a ficar de todo sozinho neste mundo.
Quando chega, é sempre uma festa. A casa inundada-se de cor, música e paz. Quando está por aqui, eu, um ser calado, me pego até a assoviar. Fico feliz em vê-la correndo pelos jardins, corredores e salas. Sua inquietude é minha calma.
Acontece que de repente parte sem avisar.
Tem ela esse costume imaturo de trocar os que a enchem de carinho por incertezas, por outros rumos, outros homens.
Parte pelas sombras e mundo volta a ser cinza, concreto e real. Eu deixo de ser poeta, escritor, sonhador e volto a ser bancário.
Passo então a rezar todas as noites ao pé da cama para que nada de mal possa ser acontecer e que Deus a traga de volta um dia.
Mas hoje é um dia alegre, pois habita em minha casa um anjo de nome Paixão.
3 comentários:
Cabeça... vc escreve muito bem. Seu texto me lembra os versos que ouvi numa pela de teatro (Amor) que falava: "O amor esteve aqui, num dia como outro qualquer, súbito fomos apresentados..."
Qualquer dia mando para você ler.
bjos, Amanda
Poeta...
Obrigada por fazer as minhas noites menos vazias.
"Passo então a rezar todas as noites ao pé da cama para que nada de mal possa ser acontecer e que Deus a traga de volta um dia.
Mas hoje é um dia alegre, pois habita em minha casa um anjo de nome Paixão."
Um beijo, muitos...
Cá
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm..."
Adorei os textos, meu mais novo poeta preferido.
Beijos,
Simone
Postar um comentário